02 de dezembro de 2012
9ª Maratona de Revezamento Ayrton
Senna Racing Day
Que evento!
Não foi uma corrida. Foi um verdadeiro evento. Preparem-se pois este post será
longo.
OBS: para quem ainda não viu, assista na minha Linha do Tempo no facebook o vídeo com as imagens feitas pela Pri Senatore.
Este evento
teve o tempo de aproximadamente 12 horas. Acredito que todos levantaram por
volta das três da manhã e retornaram para casa quase três da tarde. Questão é:
12 horas para correr 30 minutos, vale a pena? E como vale ... como vale a pena cada minuto
que passamos juntos.
Nos
encontramos no Portão 7 do Taquaral e saímos por volta da 4:15 da manhã. Aí já
vimos que alguns teriam que correr duas vezes (tivemos 3 ausências).
Desta vez o
ônibus foi tranquilo e quieto. Das outras vezes sempre muito falatório, piadas.
Tudo muito tranquilo. Paramos no Frango Assado por 20 minutos e retornamos rumo
a Interlagos. Agora já acordados e mais falantes, ouvimos o coach Halim passar as instruções e fomos nos preparando mentalmente para o que viria a seguir.
Por incrível que pareça entramos justamente no Portão 7 de Interlagos. Não tinha como não bater uma foto. De portão 7 a Portão 7 (Portão 7 do Taquaral é a sede simbólica do Clube da Corrida, nosso ponto de encontro, nosso local de treinamento).
Para
conhecimento: A pista do
Autódromo de Interlagos, “José Carlos Pace”, possui 4.309 metros de
extensão. Em 1990, ocasião em que o autódromo completava 50 anos de existência,
a pista foi completamente redesenhada e ganhou a formatação atual, em
detrimento dos 7.823 metros do circuito anterior. Passou a contar com trechos,
como a “Curva do S”, “Bico do Pato”, “Mergulho”, “Curva do Sol”, entre outros
que se tornaram mundialmente populares, graças à Fórmula 1.
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S do Senna - 7:00 da manhã |
Não tinha idéia
da grandiosidade de Interlagos. Já assisti uma prova mas fiquei em frente aos
box e parecia tudo muito pequeno. Aliás tudo que vemos na TV é diminuto e achatado. Não dá a verdadeira dimensão do local. Aproveitei cada minuto para conhecer a pista. Paramos no box 10 para pegar os chips. O Clube da Corrida montou 6 equipes de 8 corredores (Paddock, Subida do C, S do Senna, Junção, Reta dos Box, Reta Oposta). Ficamos ali por um tempo enquanto combinávamos como proceder. e até mesmo conhecermos os amigos do revezamento. Depois saí para conhecer
o Paddock e toda área do circuito. Era cedo ainda e tínhamos tempo suficiente. A organização do evento é impecável. Tudo muito bem sinalizado e com tendas de patrocinadores expondo produtos e inclusive uma exposição do Ayrton Senna. Aproveitei para passear tranquilo e tirar umas fotos. Já próximo da largada
guardei minha mochila e fomos para curva do S do Senna de onde poderíamos ver a largada.
De onde ficamos não foi possível ver os atletas saindo do pórtico. Ficamos logo depois do mesmo mas suficiente para gritar para os primeiros que abririam o revezamento. É emocionante ver o mar de gente tomando a pista de Interlagos.
Quando passaram os últimos corredores fui para outra ponta para checar as
chegadas. Depois de 20 minutos nosso Senna, Mário Basso, já passava para entregar a munhequeira
(era o bastão no revezamento) para o próximo da sua equipe. Depois apareceram
André Lucena, Adilson, Fernanda. Para cada um que chegava gritava de apoio.
Fernanda agitava o braço e achei que ela estava retribuindo. Depois vim a saber
que ela tinha caído na pista e estava mostrando o braço machucado. Foi valente. Terminou
os últimos 2,5 quilômetros chorando de dor. Voltei para encontrar os amigos e aguardar.
Corrida de
revezamento é difícil. O tempo de espera para quem vai entrar a partir do
quarto corredor é terrível. O que você comeu já não é suficiente, o cansaço de acordar cedo aparece, ansiedade e o pior de tudo: ver a cara dos que chegam. Normalmente
arrebentados. Soma-se a isso o calor que vai aumentando com o passar das horas.
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Descansando no Paddock com João e outros amigos |
É chegado a
hora. Último pit stop, aclimatização com o sol e bóra para o box.
Tudo é muito organizado. Só entra no Box quando o anterior da
sua equipe iniciar a corrida e o outro que chegou sair. Claro que nem sempre é
perfeito, estamos no Brasil e sempre dá um jeitinho de continuar por lá.
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Para entender o percurso |
Teria que
pegar a munhequeira do Thiago e passar para Natan. Dentro do nosso Box (nº 10)
estavam já outros do CC esperando a passagem. Deu para ver que na pista Thiago
estava completando o km 4. Mais uns 10 longos minutos para iniciar minha
jornada. Eu e João estávamos com a posição 6 e ficamos juntos aguardando os
número 5. Neste momento chega um corredor de uma outra equipe, desaba no chão:
fez a volta dele em 17 minutos.
Este tempo de espera no Box é irritante. É uma
mistura de pressão, ansiedade, dor no estômago. Ali você sente que não está
correndo só por você mas sim em uma equipe e indiferentemente se você vai
curtir a sua corrida existe algo maior. Existe o grupo.
O aquecimento
é precário, se é que você faz algum aquecimento. Apenas um alongamento leve.
Bem agora Thiago está se aproximando, pego a munhequeira e saio a correr. È a
sensação de um pit stop de corrida. As pernas ainda estão duras, a adrenalina lá no alto,
escuto a força da galera incentivando lá do Paddock, passo pelo pórtico da
largada e agora é comigo.
Esta é
daquelas provas que você tem que decidir o que quer fazer. Correr ou curtir
cada metro lembrando o que você já viu pela TV nas corridas. Eu que sempre
gostei de Fórmula 1 e foi difícil decidir até o segundo quilômetro.
Desço pela
saída do box alucinado, sei que até o fim da reta oposta é o lugar para fazer
tempo pois é uma descida sem fim. Até seguro um pouco pois as pernas ainda estavam frias (alguma
semelhança com os pneus). Logo se encontra o 1º posto de abastecimento. Passei reto, quando percebi já era tarde para pegar água. Fico procurando onde a pista se encontra com o
caminho da saída do box (só no final da Curva do Sol). Surpresa. A pista se
estreita. A imaginação tende a pensar autódromos com pistas largas mas não. Tão
estreita como uma rua qualquer. Tive caminho livre até o final da Reta Oposta.
Geralmente olhava para trás (o que fazia perder tempo) pois queria ter a visão
do espaço, o que os torcedores viam daquelas posições. Passamos pela área de
escape (não contornamos a pista) na Curva do Lago. Mais uma pequena descida e
início das subidas.
O 2º posto de abastecimento estava localizado na reta da
subida do Laranjinha. Neste momento minha visão foi do filme Walking Dead (aquele de zumbis).
Muita gente caminhando (realmente pareciam zumbis). Não tinha dois quilômetros e muita gente já estava andando. Minha sensação na corrida foi excelente
pois nunca passei tanta gente. Para falar a verdade talvez 6 pessoas me
passaram na corrida toda e com certeza de equipes fortes. Não é mérito meu não.
Peguei dois copos (um para reserva) mas na curva um caiu e furou não sobrando
quase nada. Passei pela Curva do S em direção ao Pinheirinho onde tinha
bastante fotógrafos. Nesta parte da pista senti o calor. Os pés esquentaram. Água na cabeça. Por
sorte este trecho é descida e dá para descansar pra a próxima subida em direção
ao Bico do Pato. Lembro que em 2008 durante a prova caiu o maior temporal (última volta), Hamilton ficou para trás dando o campeonato para Massa mas ele recuperou justamente neste trecho tirando nossa festa e ganhando
seu primeiro título mundial. Imaginei a chuva e a
habilidade dos pilotos. A pista é muita estreita e curvas fechadas.
Bom, a partir
deste ponto o cansaço chega e adicionando o ingrediente sol tudo muda. No
Mergulho último posto de abastecimento. Peguei uma água, a outra escapou da
mão. Tarde de mais. Aliá este é o único senão da prova. Deveria ter mais um
posto de abastecimento ou então este ficar mais longe pois restariam ainda 2,5
quilômetros para finalizar a prova. Passo pela Junção e a grande Subida dos Box.
Gostaria de apreciar a paisagem mas olhei para o chão e pedi clemência aos
deuses. Ainda passava por muitos corredores. Sei que tinha uma tenda com música (será miragem ?). Às vezes olhava para cima
para checar o fim da subida.
Passado o
sofrimento da Subida dos Box relaxei e apreciei a Reta das Arquibancadas. Na TV tudo
é diferente. Tudo é plano, tudo é pequeno. Esta reta é enorme e ondulada. Desce
até a entrada dos box e depois sobe até antes do S do Senna. Assusta ver que
você irá correr até o fim e voltar para pegar a subida da entrada dos box. Esta é foi
outra surpresa. É uma subida de uns 500m para se chegar nos box. Mas vamos
continuar. Agora é manter o ritmo pois falta pouco.
O pior já passou. A visão
deste ponto é maravilhosa. Quando passei pelos box deu para ouvir o grito do
pessoal do CC que apoiava entusiasticamente. Quando finaliza a reta, é
necessário voltar no sentido oposto para pegar a subida dos box (isto é um ponto ruim pois quebra o ritmo contornar os cones para voltar no sentido inverso). É uma descida
onde aproveita o máximo as últimas forças. Ouvi o Halim gritar meu nome lá dos
box. Na verdade neste ponto o esforço já foi tamanho que não dá nem para virar
o rosto e ver o pessoal com medo de tropeçar. Novamente contornar os cones e
último gás para passar pelo pórtico do revezamento e chegar no box para passar
a munhequeira. É incrível mas vi gente contornando os cones bem antes só para
ganhar tempo e diminuir o percurso. Brincadeira! Não faz sentido participar de uma prova e se auto-sacanear.
Entrando nos
box procurando avidamente o de número 10. A equipe do CC que estava no box 7
ainda deu o último grito de apoio. Encontrei o Natan e passei a munhequeira.
Fim. Ainda fiquei andando que nem louco de um lado para outro do box para voltar a respirar normalmente. Peguei o kit sobrevivente com maçã e banana e a medalha. Encontrei João já sentado em um canto. Fui até lá
exausto, encharcado de suor e banho de água. Batemos um papo, conversamos com outros atletas. Missão cumprida.
Saí do box extasiado.
Contente, cansado, molhado, com sede. Peguei mochila e subi para encontrar a
turma que já havia corrido. Colocar roupa seca. Na confusão de troca esqueci da
medalha. Por sorte encontrei no final.
Muito papo e
fotos para contar a sua experiência. Faltavam entrar na pista ainda os oitavos
corredores. Os sétimos deveriam passar por nós daqui a pouco. Me juntei aos
outros amigos esperando passar para gritar seus nomes e incentivar. Dá um gás a
mais para quem está correndo, pode ter certeza. Fiquei rouco. O último a passar
foi o Renato e improvisamos uma ôla. Foi demais. Não sei se ele viu. Comentou
depois que ouviu o grito da galera e como foi bom.
Fim de festa.
Esperar os últimos corredores, bater mais fotos, chamar o ônibus e partir.
Partir para Campinas cansados, com fome, sede mas contentes de poder participar
de um evento como este.
Abaixo está o resultado das equipes que participaram do evento. Todos fomos campeões por um dia. Teve lágrimas, sofrimento, dor, cansaço mas acima de tudo uma sensação muito boa de ter podido participar desta festa.
Resultado: 5,5k em 31:19 no ritmo de 5:40
Esta medalha diferentemente das outras, ficará junto a minha coleção de Fórmula 1. Nada mais justo. Um local mais do que apropriado.
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