Este post é para descontrair .... qualquer semelhança com personagens do nosso dia a dia não é coincidência.
Ainda me lembro bem daquele treino, onde conheci a bermuda
performance. Era o primeiro treino da noite do Clube da Corrida. Estava sentado
me alongando quando apareceu meu amigo o Síndico com esta roupagem. Achei
estranho aquela vestimenta. Não me contive, precisei perguntar:
- Ric, você está vindo de um treino de zumba ? não deu tempo
para se trocar ?
Não obtive respostas, apenas risos. Depois de minha
insistência ele me diz que aquilo era uma bermuda para melhorar tempo. Achei
estranho. Mas como corredor faz de tudo para melhorar desempenho, fiquei atento
a vestimenta e a performance do Ric. O cara realmente estava mais rápido.
Penso, logo corro: tenho que ter uma desta.
Na primeira oportunidade de ida ao shopping corri para as
lojas Marisa setor feminino, pois na minha mente somente um lugar daquele teria
até então uma bermuda de zumba para vender. Ainda me lembro do espanto da
vendedora quando falei que era para mim. Tentei persuadi-la na tentativa de me
contar onde poderia ter aquela vestimenta. Mas não consegui respostas.
Em todo treino comentava com o Ric mas ele não dava
endereço, sempre a mesma frase:
- Pô Luisão, você é foda! E caía na gargalhada.
Alguns sábados depois fui na fonte. Percorri algumas
academias de zumba em busca do equipamento. Mas nada. Diziam que estava em
falta. Enquanto isso Ric correndo cada vez mais. Percebi o equipamento em mais
alguns corredores. Ric estava fazendo história. Mas de alguma maneira ele não
contava onde obter a vestimenta. Achava que era perseguição.
Já havia desistido quando em um sábado, entrando na loja da
Adidas do Galleria, encontrei a bermuda. Toda preta, discreta. Corri. Não em direção
a ela mas sim a minha filha menor. Ainda não estava preparado para adquiri-la.
Dei o dinheiro e ela comprou para mim. Fiquei esperando do lado de fora. Em um
pacote bem escondido desci onde esposa e outra filha estavam experimentando
sapatos. Mas discrição não é algo peculiar na família. Todos queriam saber o
que eu comprei. Ao abrir a sacola, já ouvi da filha mais velha que ela preferia
shorts, quando percebeu que não era para ela. Logo todos olharam para mim.
Ainda lembro da expressão da esposa.
Não nos falamos durante o trajeto. Cheguei em casa e
guardei. Bastava a secretária limpar o closet para no instante seguinte ver que
a bermuda mudava para o lado da minha mulher.
Em uma tarde quando todos estavam fora, criei coragem para
experimentar a bermuda. Na primeira tentativa, a mesma não passou pela região dos
países baixos. Procurei por um manual de instalação. Visitei youtube mas nada.
Se aquilo entra é porque algo precisa ser feito. Na segunda tentativa fui
persuasivo. Puxei, levei para o lado esquerdo, direito, uma ajeitada aqui e
acolá e pronto. Nunca a expressão ovos cozidos foi tão bem apropriado. O que era
aquilo ? me considero um cara normal e mesmo assim tive dificuldades em
encaixar tudo. Fiquei imaginando as chinesas que eram obrigadas a enfaixar os
pés para não crescer. Aquilo era quase uma vasectomia.
Me lembrou inclusive um pijama que minha mulher me deu.
Cansada do traje típico, camiseta de corrida velha mais shorts para dormir,
ganhei de presente um pijama que aparentemente parecia seda. Todo feliz resolvi
experimentar bem naqueles dias de janeiro onde o calor era insuportável. Deve
ter dado uns dez minutos até sentir um calor aterrorizador nas partes baixas.
Literalmente o peru assou. E não era Natal. Pensei comigo e alto:
- que porra é esta ? onde comprou este instrumento do
inferno ?
Meu irmão, que calor. Aquele shorts foi utilizado na
inquisição. A esta altura minha mulher ria que ria e eu já pelado buscando por
água. Devia vir na instrução: utilizar somente no inverno.
Mas voltando para bermuda performance.
Vencido este estágio de acomodação, me preparei para os
primeiros passos. Ainda vi que precisava ajeitar as coisas. Posicionar melhor,
se é que me entendem. Demorou minutos ainda para poder me deslocar. Mas o que a
gente não faz por paces melhores. Mais uma etapa vencida. Estava pronto para
correr.
Uma vez experimentado ainda havia o problema de sair de casa
com aquilo. Teve que ser em um treino matutino quando todos ainda estavam
dormindo. Quando voltei enfrentei olhares de reprovação e aí não adianta
argumentar que é para melhorar a performance. Hoje acho que existe um
entendimento por parte da família embora nenhuma compreensão. Quero acreditar
que seja por ciúmes, pela modelagem que a bermuda performance me proporciona.
Em relação ao tempo, ainda tenho dúvidas que me proporcione
algo diferente além da sensação dos ovos cozidos. Talvez aí esteja a resposta.
A necessidade de voltar para casa para tirar aquilo e dar liberdade e frescor é a razão de correr mais rápido.
A bermuda performance hoje faz parte dos meus trajes de corrida. Nem sempre uso, mas em corridas rápidas ou longas é uma alternativa pelo menos psicologicamente.
Hoje vejo que muitos utilizam a bermuda performance sem
pudor. Podem dizer o que quiser mas tenho certeza que quem lançou a moda, aquele
que trouxe da zumba para as corridas de rua foi o meu amigo Ric, o Sindico.